COMPROMISSO INTRANSFERÍVEL

Sempre que leio ou ouço sobre a história de Jacó e Raquel, lembro-me de um irmão chamado Richard Wurmbrand (você pode ler sobre isso aqui, no e-Book), que passou 14 anos na prisão, quando a Romênia foi tomada pelos comunistas, que tentaram submeter a igreja aos seus propósitos. Richard registrou o seguinte testemunho: “Passei um total de catorze anos na prisão. Durante todo este tempo não vi a Bíblia ou qualquer outro livro evangélico. Cheguei ao ponto de esquecer-me de escrever, e por causa de grande fome, entorpecentes que me aplicavam e torturas, esqueci-me também das Escrituras. Mas no dia em que havia completado catorze anos de encarceramento, lembrei-me do versículo: “Jacó trabalhou por Raquel catorze anos e isto lhe pareceu pouco tempo porque ele a amava.””. Esse homem amava o evangelho e a Igreja de Cristo, por isso os 14 anos como prisioneiro foram aos seus olhos como poucos dias.

Ainda sobre a vida de Jacó, quero chamar a sua atenção para este verso:

E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar,
que a menor se dê antes da primogênita.
(Gênesis 29:26)

Quando falamos sobre a Igreja Fiel, ela pode ser observada na Palavra em dois momentos: um deles é o período da igreja nesta terra, sua caminhada aqui; um segundo momento e muito aguardado por nós é a igreja na Eternidade, a noiva que terá se tornado esposa. Veremos como a história de Jacó, Labão e suas filhas nos remetem a isso.

A Bíblia fala sobre as filhas de Labão e diz: “Leia, porém, tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa à vista” (Gn 29:17). Lemos que Jacó amava Raquel e fez um acordo com Labão de que serviria a ele durante 7 anos por Raquel. Você se lembra da história… ao fim dos 7 anos, Jacó foi requerer a esposa prometida, mas o pai lhe entregou primeiro Léia, só depois lhe deu Raquel. Naturalmente, Jacó questionou a atitude de Labão, que lhe respondeu conforme destacamos: “Aqui não é costume entregar em casamento a filha mais nova antes da mais velha”.  

Como pai e responsável pelo casamento das filhas, Labão conhecia muito bem esse costume e teve, pelo menos, sete anos para conseguir um bom casamento para Léia, para que então Jacó tivesse liberdade para se casar com Raquel. Não creio ser o caso de ele ter se lembrado desse “pequeno detalhe” em cima da hora.

A despeito da aparente enganação por parte de Labão, podemos aprender algo com este costume e a ordem dos casamentos…

Raquel, naquilo em que foi obediente e temeu ao Senhor, nos fala da Igreja que vai morar com o Senhor na Eternidade. Ela será formada por um povo que terá seu corpo transformado, e aquilo que é corruptível terá se revestido de incorruptibilidade (1 Co 15). Ela é formosa, tem olhos como os das pombas (Ct 1:15); é a esposa sobre quem o capítulo 4 de Cantares fala, dizendo: “em ti não há mancha” (v. 7). Como Jacó se encontrou primeiro com Raquel e a amou, foi por essa Igreja e pelo projeto de salvação que nós fomos atraídos. Um dia, tomamos a decisão de servir ao Pai porque desejamos firmar um compromisso com essa Igreja, assim como Jacó serviu a Labão por Raquel.

Porém, antes que Jacó tomasse Raquel por esposa, o pai entende que aquele mesmo homem precisava, antes, casar-se com Léia, a filha mais velha, a fim de seguir a ordem costumeira. Léia representa o momento da igreja ainda neste mundo. Os olhos “tenros” que o texto usa para caracterizar Léia também pode ser traduzido por “enfermos”. Por mais que nos esforcemos para viver em santificação, a igreja é pecadora, uma vez que é formada por pessoas que ainda não tiveram os seus corpos transformados, tendo características do que é corruptível. Como Léia, a igreja deste tempo pode parecer ter olhos enfermos e não ter a formosura como a da igreja profetizada em sua plenitude na Eternidade.

Fato é que, para alcançar o direito de estar com Raquel, era preciso se comprometer, antes, com Léia. Aqueles que almejam ser parte da Igreja que vai reinar com Cristo na glória, precisam se comprometer, em primeiro lugar, com a igreja nesta terra. Esta responsabilidade não pode ser delegada a outro, cada um de nós precisa se comprometer com a igreja em seus dois momentos e na ordem estabelecida pelo Pai.

Então, os anos que passamos servindo aqui, serão aos nossos olhos como poucos dias, pelo muito que amamos a Igreja Fiel do Senhor. “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Rm 8:18)

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